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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Despedida


Aos meus companheiros de todos os movimentos, escrevo esta carta como um desabafo, pois passei por lugares que talvez poucos de vocês tenham conhecido, observei do mais belo anjo a natureza infinita, e ao contrário do que todos imaginam aprendi muito, constantemente me acusam por não dispor das cores que meu companheiro neoclássico possui, me julgam por não ter espírito religioso, e como se somente isso não bastasse me chamam de quadrado por minha simplicidade.

Entretanto nunca me questionaram que dentre todos do meio sou novo, não me importo com o que os demais pensam e tenho sim espiritualidade, mas com a ciência: minha simplicidade vem de minha região, mesmo sendo vizinho de todos não sou representação de um mundo 'assim sabe', sou tradicional e sei que tenho problemas, sou desengonçado e feio perante todos, mas isso é reflexo do meu povo, aqui sempre fomos os diferentes 'atrasado', talvez por sermos de uma família gigante comparando com vocês e com um único pai, o bravo e rigoroso Czar, este mesmo que nos educou de forma rígida, mas fora ele o primeiro a me expulsar, me chama de louco sabe, diz que vivo em outro mundo, um mundo distante, que de tão simples ninguém me entende e quando me compreendem me torno perigoso diz ele: acreditam! Segundo ele, pelo fato de não gostar da natureza não me importar com o que os outros pensam e abominar 'anjinhos' tenho pacto com diabo e posso influenciar todos.
Por fim companheiros, escrevo esta carta não para se comoverem, mas, para tomarem ciência que serei morto, todavia, com a consciência tranquila e esperando que alguém novo e sem vícios, possa ler  e não me compreender, assim como vocês não me compreendem. Ah! Meu nome vem de supremo, logo supremo e diabo podem ter alguma ligação?
De: Suprematismo
Para: Todos os companheiros, em especial aos Srs. neoclássico e romantismo
Imagem: Em 1913, o artista russo Kasimir Malevitch (1878-1935) busca racionalidade e reduz as formas à pureza geométrica do quadrado. A rigidez baseia as relações entre forma e cor.

domingo, 31 de outubro de 2010

Uma dose de cultura e uma injeção de valores

Artigo publicado no dia 25/10/10 no Jornal 'Folha da cidade' na cidade de Caçador -SC

O país vem crescendo em ritmo acelerado de tal forma que a maioria das pessoas desprende-se de valores humanísticos, numa sociedade individualista e que, em partes, absorve a cultura norte-americana como modelo. Fica evidente que o consumismo exorbitante causa, em suma, o que chamamos de egocentrismo. Em 2006, depois das eleições do segundo turno no Brasil, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que a maioria do povo votou pensando em seus próprios interesses, neste segmento temos em situação minoritária, os utópicos estudiosos que norteiam suas práticas voltadas para o social assim como os heróis anônimos: insuficientes para atingir de forma quantitativa uma mudança totalitária e necessária.

O maior agravante, caso não ocorra uma mudança comportamental, é que inegavelmente a prática humanística dependerá unicamente da tragédia natural ‘morte’ ou do que chamamos ‘catástrofes da natureza’ como observamos nos últimos anos, inclusive no Estado de SC no vale do Itajaí.

Importante frisar que a condição atual não é irreversível, não precisamos ser radicais para termos de fato uma aproximação do modelo econômico atual com a acessibilidade cultural num parâmetro social, mesmo não sendo o ideal é possível criarmos mecanismos reducionistas para o que chamo de modo de produção segregacionista, sem usar uma receita, como vem sendo feito.

A educação adaptada às reais condições sócio-econômicas de seu público pode causar estranheza inicialmente, entretanto é uma opção concreta para nossa situação. Isso significa que investir em um trabalho, que tenha esta difícil tarefa – desde que haja uma associação desta realidade com a valorização cultural – pode transformar em longo prazo, o que hoje é simplesmente uma comunidade desvalorizada, às margens da sociedade, num trabalho voltado ao turismo, como o que vem sendo feito em partes do RJ, onde não se valoriza a desigualdade, a criminalidade e a condição pobre de seus moradores, mas sim o que pode ser concretizado por eles, ainda que vivendo em condições subumanas.

Desde as décadas de 30 e 40 do século XX, grandes literatos de todos os continentes se encantaram com nossas paisagens, o que não pode ocorrer é defender que a desigualdade seja o caminho para diferentes culturas, quando o ideal é proporcionar cultura acessível a todos. Caso contrário, teremos curadores de exposições felizes por não ter público e acreditando que não o tiveram por conta que todos não foram capazes de interpretar tal exposição.

Atrair desgraça para solidarizar o mundo é o cúmulo da insensibilidade, mas por estarmos inseridos num mundo ‘antropofágico de interesses’, como dizia Marx: ‘a exploração do homem pelo homem’ cria a competitividade e prevalece à necessidade individual. Assim, administrar o tempo para que possamos observar o que nos norteia é o ideal para uma sociedade hoje desumanizada. Num conceito filosófico, a cultura transcende do meio em que tudo pode se consolidar como tal, mas que acaba com seu materialismo, e em partes o erro seria a vida e não a morte.

JOHNY, Marcelo Maciel: pós-graduando em cultura e educação pela USP além de membro fundador do MLR (Movimento Libertário Revolucionário), movimento voltado para práticas educacionais sem qualquer vínculo partidário.